Diria que foi um Verão quente, o de 1984, pelo menos para José Rocha Vieira e a equipa que dirigia no semanário “Tal & Qual” (nascido do programa de TV com o mesmo nome de Joaquim Letria). Foi ali que se descobriu o “caso” Dona Branca - a mulher que aceitava depósitos com juros a 10% - numa reportagem de Hernâni Santos (que começou em 1983, com as primeiras noticias sobre o caso, mas só um ano depois se tornou assunto nacional), e depois foi só uma questão de, como se diz na gíria, não largar o osso. O jornalismo do “Tal & Qual” era assim: vivo, popular, forte, ousado. Terá tido aqui um dos seus momentos de glória. Custava 15 escudos, à sexta-feira, e tenho saudades de o ver nas bancas...
Esta fotografia, roubei-a do Facebook do meu amigo António Macedo. Ali está ele, com o Viriato Teles, prontos para jogarem futebol com o mestre Chico Buarque, que veio a Lisboa cantar, mas nunca perdoa a clássica “peladinha”, onde quer que aterre ou esteja. A fotografia é exemplar por todos os motivos – as imagens de cada um, o logo antigo da TAP na t-shirt do cantor, uma postura (de todos os intervenientes) descontraída, tranquila, de um tempo em que parecia haver tempo para tudo e espaço para todos. Algum do melhor jornalismo cultural que então se fazia resultava justamente deste jeitinho para conjugar o trabalho com o convivio...
Perguntei ao António o ano da foto: 1988. O ano em que o Carlos Pinto Coelho achou que eu tinha jeito para fazer televisão...
Não sou o exemplo acabado do saudosista. Mas às vezes penso no tempo que nesse tempo tínhamos nem que fosse para jogar futebol com um cantor que chegava por aí com genica...
Passou um pouco despercebida, mas mexeu comigo a morte de John Barry, um dos mais relevantes compositores de bandas sonoras de cinema do século XX. Da sua vastíssima obra destaca-se, obviamente, o trabalho continuado para os filmes de James Bond, ao qual ficará ligado para a eternidade. Sou pouco dado ao “modo fã”, mas abro uma excepção para 007 – realmente, admiro a figura, os filmes, todos os actores que o representaram, os exageros, os romances, os carros destruídos. E quando li a noticia da morte de Barry lembrei-me que, há oito anos, o Museu da Ciência de Londres albergou uma exposição divertidíssima alusiva ao universo de James Bond - e eu estive lá. A fotografia do Z4 literalmente “aberto” ao meio foi tirada por mim, nessa tal Bond Exhibition, obviamente servida pela musica de John Barry, onde se experimentavam diversos níveis de interactividade, numa antecipação tecnológica do mundo que hoje vivemos.
Lembrei-me da exposição, de Bond, e bom: aqui fica mais uma imagem para este passado que vou revisitando regularmente...