Há 40 anos, quando se falava em Presidente, era mesmo "Presidente do Conselho", o equivalente actual de primeiro-ministro. Em 1973, a primavera Marcelista já tinha o seu cheirinho de marketing - como esta capa de Flama bem mostra: Marcello Caetano abre as portas da residência oficial e deixa-se fotografar com os netos para a capa da revista. O que hoje nos parece banal era, à época, extraordinário, e sinal de uma "abertura" notável. Este foi o ano em que nasceu o semanário "Expresso", e faltava menos de um ano para a revolução dos cravos...
O homem que não é político já fazia politica em 1985 – e esta capa da Grande Reportagem (de boa memória...), é disso boa prova. “O Endireita” não era ainda sequer primeiro-ministro, tinha acabado de conquistar o PSD, como escrevia então José Júdice, “invocando meia dúzia de vezes o nome de Sá Carneiro, falando no “destino” e no “fado”, e dizendo que as palavras do falecido fundador do PSD tinham sido para ele como os primeiros acordes da 5ª Sinfonia”. Ou, de forma mais crua: “o cumprir de mais uma pancada do destino”.
25 anos depois, Cavaco aí está, querendo endireitar de novo o país.
Desta vez, ninguém pode falar em “surpresa” – e os que nele votarem não se poderão queixar de não saberem quem é a figura, e do que é capaz...
Esta Grande Reportagem de 1985 era dirigida por Barata-Feyo e alimentava uma equipa de luxo, de Vasco Pulido Valente a Adelino Gomes, de Miguel Sousa Tavares a Fernando Gaspar, de Joaquim Furtado a Agustina Bessa-Luis...
Não sei se faria sentido nos dias que correm, não sei se haveria espaço, mercado, lugar. Mas sei que tenho saudades de ler um semanário com a criatividade, a frescura e a imaginação que O Independente revelou nos seus primeiros anos. Graças ao Miguel (Esteves Cardoso), ao Paulo (Portas), ao Manuel (Falcão) e ao João (Amaral), fui muito feliz naqueles primeiros anos de vida do jornal...