Esta capa teria muito que se lhe dissesse: eram os tempos do Cavaleiro Andante – nome que Carlos Tê recuperou numa canção de Rui Veloso -, revista juvenil simples, como todas na época (1960): futebol e banda desenhada (Moby Dick, Lucky Luke de cigarro ao canto da boca, Timtim e um cão que, à época, se chamava Rom-Rom, apesar de ser o Milu que todos conhecemos...). Eram os tempos de um imbatível Benfica, com José Augusto, Coluna, Costa Pereira, Águas e mais uns tantos. Eram os tempos do escudo: o “Cavaleiro Andante” custava 2 escudos.
Há dois anos, recuperei aqui uma edição do Cavaleiro Andante para lembrar o meu irmão. Um leitor acrescentou um ponto e contou que Portugal, através desta revista, foi o primeiro país – a seguir à França, naturalmente – em que Tintim foi publicado, justamente porque o director do Cavaleiro Andante, Adolfo Simões-Muller, era amigo pessoal de Hergé.
E agora, dois anos depois, regresso à revista. E com ela a todas estas memórias que cultivo...
Em dias de greve geral – e, por isso, de levantamento popular... -, a memória do Verão quente de 1994. O bloqueio da ponte 25 de Abril na sequência do aumento de portagens foi apenas o começo da queda de Cavaco Silva. Esta edição especial da Visão (250 escudos, preço de capa...) saiu no fim-de-semana a seguir ao dia crucial – era director o Cáceres Monteiro, de quem todos temos saudades. Foi ele o principal impulsionador de uma revista extra – outros quadros da direcção, entre os quais me incluía, defendiam que a cobertura dos factos devia ser feita na edição curricular da semana seguinte, quase oito dias depois. O Cáceres estava certo, nós estávamos errados...
Agora que passam 30 anos sobre a morte de Sá Carneiro, e no momento em que Maria João Avillez reedita o seu livro “Solidão e Poder”, recordo aqui a capa original da primeira edição, que tenho e li em 1981. O autor da capa é o popular “Mestre Ribeiro” que dirigiu o design do Expresso anos a fio...
Encontrei numa “Visão” antiga, de Junho de 1993, esta fotografia de Helena Sanches Osório (tirada por Marcelo Buainain). Acompanha um perfil de Fernando Antunes sob o titulo “A Guerreira”, onde se diz que Helena é a jornalista que mais dores de cabeça tem dado a Cavaco Silva (então primeiro-ministro): “escreve num jornal de direita mas ainda não rasgou o cartão do PS”.
A Helena deixou-nos demasiado cedo. Fazem falta jornalistas como ela, jornais como O Independente. Vivemos um tempo que me parece muito próximo do tempo em que são precisos novos projectos editoriais. Digo eu, claro, com saudades da Helena.
Anúncio das máquinas de escrever Olympia, há exactamente 45 anos. Do penteado da senhora à mesa de trabalho, passando pela composição da fotografia, está tudo dito sem mais palavras...