O que me impressionou neste anúncio, que encontrei numa revista portuguesa dos anos 70, não foi o Banco ou a mensagem publicitária – mas a imagem do “livro de cheques”, que me “enviou” a uma velocidade alucinante para os meus 10, 12 anos, e para aquelas memórias fixas que guardamos dos nossos pais. Eu recordo com precisão o gesto do meu pai: tirar do bolso interior do casaco o “livro de cheques”, desdobrá-lo e começar a preenchê-lo...
... Isso: um livro com picotado, “canhoto” (à esquerda, óbvio) para anotar o valor, e uma folha de generosas dimensões onde se escrevia o que havia a escrever. Um objecto que pertencia ao mundo dos adultos.
Pensei nisto porque ao mesmo tempo – associação de ideias... – tentei encontrar na memória a ultima vez que fui forçado a passar um cheque e nem sequer me lembro. Foi seguramente há mais de um ano.
By the way: nem sei que raio é hoje o que resta do Banco Borges & Irmão...
Há coincidências mesmo estranhas: depois de escrever o post sobre José Franco, tropecei literalmente num molho de revistas, no quarto onde guardo coisas antigas, e a primeira que olhei tinha na capa um presépio do ceramista. Era de Dezembro de 1972 e lá dentro apresentava um trabalho sobre o homem que construía no Sobreiro a “aldeia saloia que será a aldeia da saudade”. Em miniatura, como a imagem mostra. Parece que o sonho de Franco era, escreve-se, “construir uma escola para diminuídos físicos”, “mas a ideia não tem sido apadrinhada nem mesmo pelas pessoas de alta patente”.
Se calhar foi melhor assim: cresceu ali um espaço que habita o imaginário de muita, mesmo muita gente... E aqui fica então uma imagem de José Franco, assinada por António Xavier há 32 anos nas páginas da “Flama”...
Na Primavera em que se lança por fim a edição portuguesa da Playboy - convenhamos, pouco imaginativa e/ou ousada... - fui buscar o álbum dos 50 anos da Playboy norte-americana e descobri capas geniais. Como esta, com a Miss December 1958, Joyce Nizzari, numa inteligente e original composição gráfica da revista. Tenho saudades de capas assim - seja numa Playboy americana (onde nunca mais se viram aventuras criativas desde esses anos 50, em que as vendas superavam o milhão de exemplares mensais), ou noutra revista qualquer...