Ao longo de 25 anos fiz muitos programas de televisão, devo ter estado “no ar” alguns milhares de horas. Dos tempos do Programa das Festas e dos Tempos Modernos, com a Ana do Carmo, ao Falatório da RTP-2 (que o Herman bem gozou, chamando-lhe “Engraxatório”...), passando pelo “Legitima Defesa” na TVI e o “Encontro Marcado” na SIC Mulher, a lista é grande. Mas a verdade é esta: na esmagadora maioria dos casos, quando alguém se quer lembrar de algo que fiz, do que se lembra é do “Canal Aberto” (RTP-1). Não porque tenha sido um momento relevante, que não foi, ou duradouro, que também não foi – mas por causa do cenário, da “montra” aberta para a 5 de Outubro e dos transeuntes a espreitar pelo vidro e dizerem adeus à família. Como uma vez me disse um homem de uma garagem, “lá o que vocês dizem não interessa nada, agora o pessoal lá atrás a dizer adeus é que eu não perco...”
... Encontrei esta foto, tirada minutos antes do programa estrear. Tratando-se de uma emissão em directo interactiva – das primeiras que se fizeram na nossa televisão -, tive no primeiro programa dois experientes homens da comunicação “olhos nos olhos” (ou ouvidos nos ouvidos, pela rádio...): Cândido Mota e Joaquim Letria. Estávamos em 1996...
(Lá mais para Novembro...) Faz 20 anos que ele tombou de vez, mas a minha agenda antecipa-se à efeméride: este bocado de pedra que aqui está pertenceu ao Muro de Berlim. Comprei-o a uma criança turca, no começo de 1990, perto da porta de Bradenburg. Ela e mais umas tantas andavam ali, à minha frente, com escopo e martelo, a tirar bocados de muro para vender aos turistas. Em troca de uns marcos, e com direito a uma fotocópia que "autentificava" a coisa. Trouxe vários bocados do muro para lembrança de viagem. Fiquei com este. Olho para ele com o pragmatismo essencial - é um bocado de pedra sem graça nem jeito - mas quando lhe pego sinto qualquer coisa mais forte e mais profunda. Qualquer coisa que tem a ver com liberdade e vida. E ofereço este post à germânica “Blonde With a Phd”, sem link porque é cá entre nós...
Fui buscar este “arranjo” de sete imagens de Elis Regina ao livro “Furacão Elis”, de Regina Echeverria, que escreveu uma das mais rigorosas e completas biografias da cantora. Recupero Elis porque a mão amiga do Edson Athayde me trouxe do Brasil uma edição especial do álbum “Elis” que, além de um DVD com uma entrevista da cantora À TV Cultura, e uma galeria de imagens, inclui dois inéditos absolutamente arrepiantes: “Trem Azul” e “Se Eu quiser Falar Com Deus” a solo - isto é, só com a voz de Elis Regina sem qualquer acompanhamento musical. Dois solos absolutos. É um monumento à voz da cantora, e uma emoção profunda que me deixou em pele de galinha sem conseguir mais do que fechar os olhos e render-me (como me ensinou o David Ferreira, quando se trata de momentos musicais únicos).
O anuncio fala por si. Como ex-fumador inveterado, ou melhor, como fumador que decidiu privar-se dos cigarros, nem consigo elaborar um comentário decente, ou humorado, ou irónico. Fica só a imagem...
Legenda óbvia: um judeu ortodoxo e um soldado israelita socorrem uma mulher vítima de um atentado bombista em Jerusalém. Em 2009?
Não. Em 1997, no mercado de Mahane Yehuda. De ingénuos e de tolos todos temos um pouco – mas não é preciso ser excepção à regra para adivinhar que o passado desta história será, infelizmente, futuro.
(A fotografia é de Jacqueline Arzt Larma e encontrei-a num álbum sobre o trabalho dos fotógrafos ligados à Associated Press)