Estávamos em Maio de 1988 e reinava uma grande euforia na Rua Actor Taborda, à Estefânia, num primeiro andar muito bem situado: justamente um piso acima do cinema pornográfico Cinebolso...
Nascia o jornal “O Independente” e esta era a primeira página do número zero. A fotografia que aqui se vê foi tirada pela Inês Gonçalves, e o “modelo” que posava junto a um táxi com jornais debaixo do braço era... Rui Henriques Coimbra, à época responsável pelo arquivo do jornal. O título da manchete, “Presstroika”, anunciava novos títulos de imprensa, mas no fundo antecipava aquilo que o jornal dirigido por Miguel Esteves Cardoso, Paulo Portas e Manuel Falcão veio a constituir no panorama dos media nacionais: uma revolução, um momento de viragem. E um sonho também: era possível voltar a fazer jornalismo livre, independente, e novo. Passados 20 anos, resta pouco dessa ideia – resta a memória, e alguns sorrisos quando nos lembramos dos dias que ali vivemos...
Cobiça, Gula, Inveja, Ira, Luxúria, Orgulho – eram estas as palavras que apareciam debaixo do cabeçalho “A Preguiça”, revista que acompanhou “O Independente” durante algum tempo. Mais uma ideia notável de Miguel Esteves Cardoso, que teve Paulo Pinto Mascarenhas, Inês Gonçalves, Lourdes Modesto, Alfredo Saramago e mais uns tantos a garantir qualidade, imaginação, criatividade. “A Preguiça” (onde também escrevi sob o pseudónimo Pedro Mana...) era uma revista sobre o prazer – e o prazer está à mesa mas também está num quadro, numa fotografia, num campo cultivado, numa horta. “A Preguiça” era um manual de viver bem. Um manual feliz. Devia ter crescido para fora do jornal – e estar hoje nas bancas, uma “Saveur” portuguesa que tanta faltinha nos faz...
Para promover o espectáculo de sexta-feira, dia 14, no Campo pequeno (lá estarei...), Jorge Palma voltou ao metropolitano de Lisboa, de viola às costas, e cantou para quem o quis ouvir. Lembrei-me então desta fotografia que lhe tirei há 25 anos (Abril de 1983), ali no Miradouro de São Pedro de Alcântara, num espectáculo integrado na campanha eleitoral da UDP/PSR. Ou seja, na pré-história do Bloco de Esquerda...
Confesso que passei por lá sem qualquer intenção política, já que, à época, eu (ía fazer 19 anos...) votava à esquerda, mas não tão à esquerda...
... Da mesma forma, Palma tocava no metropolitano, mas também fora dele. E em palcos mais ou menos decentes, como este. Tanto quanto me lembro, já então tinha queda para se esquecer das letras das canções...