Escolhi esta capa da New Yorker de Julho de 1939 para assinalar férias aqui nestas “Pré-Histórias” (o resto do blog mantém-se acordado, embora lentinho como os habitantes da zona de Portugal para onde me desloco...).
Como não levo demasiado carrego comigo, deixo estas memórias iconográficas entregues a si próprias. Ou melhor: entregues a esta belíssima ilustração de Richard Taylor para uma edição estival e colorida da NY.
O que é mais interessante observar na ilustração é que, exceptuando a ausência do biquíni, ainda por inventar nesta altura, toda a imagem de praia que se exibia na capa de uma revista nova-iorquina no final da década de 30 corresponde à imagem massificada da praia de hoje na Europa. Naquele tempo, uma capa de revista portuguesa sobre praia seria bem menos povoada, animada, nem sei mesmo se seria capa ou “natureza morta”...
PS: Já agora: o tal de biquíni só foi “inventado” na década de 50 - e como se sabia previamente o efeito que iria provocar na “gajada”, ganhou o nome de um atol (Bikini) onde foi experimentada a bomba atómica...
Há 60 anos, a máquina de escrever “para as exigências modernas” era esta Olivetti, representada em Lisboa por um “estabelecimento” cujo nome, hoje, seria pelo menos infeliz: “Sida, lda”...
No Almanaque “Serões”, de 1949, onde encontrei o anúncio, conta-se a história da invenção da máquina de escrever, atribuída ao francês Pierre Foucault - que “crente na inegável utilidade da sua descoberta”, ofereceu um exemplar a Napoleão III. O chenceler da Corte terá respondido à oferta com uma carta em que aconselhava o inventor “a empregar o seu espírito fértil e engenhoso em ideias práticas e realizáveis”.
Foucault abandonou o seu invento, que veio por fim a ser registado nos Estados Unidos da América, em 1873, por Cristóvão Latham Sholes.
(... Da memória sonora mais viva que tenho do meu pai, e dos meus primeiros dias de jornalismo, é justamente do barulho das teclas noite dentro, no primeiro andar do Campo Grande...)
A propósito do “debate” aqui no blog sobre a Costa Alentejana, uma fotografia que descobri num livro antigo: Vila Nova de Milfontes, imagem área em 1945... Não tenho fotografia actual para comparar, mas qualquer pessoa que conheça a vila notará as diferenças sem precisar sequer de lupa...
Quando “nasci” para o mundo das revistas e dos jornais, a “Life” estava a entrar na decadência financeira. Os anos 70 (crise do petróleo, pois então...) e a força avassaladora da televisão foram mortais para o conceito de magazine de informação pela imagem. Ao contrário de formatos onde o texto ganhava dimensão, como era o caso da “Time”, a “Life” era a revista das grandes fotoreportagens, o esplendor de gerações de grandes repórteres de imagem (Cartier-Bresson assina a reportagem de capa desta edição de 1955...). Entre 1936 e 1972, estão nas suas páginas os momentos mais exaltantes do jornalismo fotográfico – e da própria arte da fotografia. Foi a revista dramática, apaixonada, vibrante, profunda e inteligente a que a América se rendeu durante quase 40 anos...
Mas no final da década de 60, a “Life” tornou-se editorialmente cara, tecnicamente cara, e sofreu ainda do aumento brutal do preço do papel no começo dos anos 70. Depois de uma morte anunciada em 1972, voltou às bancas em 1978 em edição mensal. Hoje, já só existe na memória de quem a “conheceu” e em edições monográficas pontuais.
Fazia muita falta aqui o meu amigo João Gobern para precisar datas: algures, a meio dos anos 80, João Gilberto veio por fim a Portugal para alguns concertos no Coliseu de Lisboa e do Porto.
Toda a gente sabia, na organização dos espectáculos, que João Gilberto era rigoroso, picuinhas e maníaco: o som da sala e de retorno para ele próprio, a distância entre ele e o microfone, a altura da cadeira, o tipo de microfone, tudo era medido e primorosamente acertado e afinado para que o “mestre” se sentisse no seu “habitat” e produzisse um dos seus notáveis recitais. Assim foi feito na tarde antes da estreia.
Fui no primeiro dia e armei-me (uma vez mais...) em fotógrafo.
Tanto quanto apurei na altura, parece que um técnico da organização local passou pelo palco e pela “zona nuclear” de João Gilberto entre o ensaio e o espectáculo, algures na hora de jantar, e terá dado um toque ligeiro no pé do microfone da voz, ou no da guitarra, ou mesmo em ambos, alterando o rigor preciso da sua localização.
Resultado: João Gilberto abriu o espectáculo do Coliseu, executou a primeira canção, queixou-se que algo estava errado no som do microfone, tocou ainda a segunda canção depois do desesperado mergulho de um dos técnicos por sobre aquela paranóia milimétrica, mas parou, desatinou, e foi para o hotel. Não houve mais espectáculo.
Não me lembro se os espectadores viram o dinheiro de volta ou houve espectáculos extra. Como é que foi, João?
Houve um tempo em que, além de escrever, eu também fotografava... Achava mesmo que o futuro do jornalismo estava nessa capacidade de sermos multidisciplinares – mas mal sabia quão “vidente” estava a ser e até onde iria esse caminho.
Bom, então fotografava. E encontrei nos meus arquivos esta fotografia, que tirei à Lena d’Água e ao António Manuel Ribeiro, na Costa da Caparica, nos ensaios de um projecto a dois que... nunca viu a luz do dia. Se bem me lembro, era algo mais acústico e suave do que o rock dos UHF e do que o pop que a Lena espalhava sob a fórmula “Vígaro Cá, Vígaro Lá”... Tinha até um produtor inglês interessado na dupla.
Mas a dupla nunca passou desta fotografia e de alguns ensaios. Eram os anos 80 no seu esplendor...
Há 32 anos, esta capa da “Flama” – a Paris Match portuguesa, onde meu pai foi jornalista e depois colunista de humor – promovia os pequenos partidos que queriam ir a votos.
Ribeiro Telles está igual ao arquitecto que hoje encontramos, Silva Resende do PDC deve ser o mesmo Antero Silva Resende que fechou “O Dia”. Temos a memória de Acácio Barreiros, que transitou da UDP para o PS. Fico na dúvida: este Carlos Guinote do PCP-ML será o mesmo do Bloco de Esquerda?
Freitas é Freitas. Como Arnaldo Matos e Teotónio Pereira. Onde andarão António José Abreu e João Cardoso?
A imagem do meu amigo Ferreira Fernandes, à época ao serviço da LCI, é notável – porque, exceptuando cabelo e barba, que voaram com o tempo, o olhar “agudo” do jornalista já lá está. Igual ao de hoje.
Trinta e dois anos depois, olhar estas imagens tem a graça do passado e o drama do futuro. Daqui a 32 anos...
No livro “Covering the New Yorker”, que reúne uma selecção das melhores capas de revista norte-americana, encontrei esta capa (Julho de 1993), assinada por Vitaly Komar & Alexander Melamid, e lá se conta que ela foi criada para ilustrar um artigo onde se explorava o reaproveitamento artístico que os criadores americanos davam aos símbolos obsoletos da antiga União Soviética. Na imagem, Lenine tenta apanhar um Táxi em Nova Iorque, com o edifício da Chrysler em fundo (como se fosse um daqueles gigantes moscovitas...), enquanto a bandeira vermelha ondeia livremente, mas... com o símbolo da McDonald’s.
Se clicar na imagem, amplia-a e consegue ler esta crónica notável de Vasco Pulido Valente publicada no clássico “Cinéfilo” em Fevereiro de 1974. Ou seja, há 34 anos...
À circunstância de ter escolhido esta crónica, e não outra, não é alheio o facto de me ter rido a bom rir com a polémica entre Maria Teresa Horta e o “Inimigo Público”...
Resta dizer que o “Cinéfilo” – um dias destes reproduzo umas capas da época – tinha a seguinte equipa:
Entre redactores e colaboradores, além de VPV, João César Monteiro, José Nuno Martins, Adelino Tavares da Silva, Eduardo Guerra Carneiro, José Ribeiro da Fonte, James Anhanguera, entre outros. Um luxo. Infelizmente irrecuperável nos tempos que correm...