“A mulher rural alentejana caminha sem hesitações pela estrada da vida, conhece todos os segredos do campo e executa as mais duras e exaustivas tarefas”.
“Enciclopédia Anual de Informações Úteis e Assuntos Culturais”
Obra editada por Fausto Gonçalves e patrocinada pela Casa do Alentejo
Sei que nasceu na ultima década do século XX e que morreu algures entre 2004 e 2006. Não sei mais nada. Mas a “Gulliver” italiana era uma das minhas revistas de viagens favoritas, porque apostava nos estilos de vida, numa ideia hedonista de vida aplicada às viagens, à gastronomia, ao conhecimento.
Nesse sentido, misturava com frequência moda e turismo, preocupava-se com o prazer (fosse ele o prazer de ver ou de sentir...). E cultivava o gosto também no grafismo, nas produções fotográficas, nos dossiers. Não era a revista perfeita de viagens – mas andava lá muito perto. Um dia deixei de a encontrar nas bancas portuguesas. Pouco tempo depois percebi que tinha fechado.
“Sozinha, a mulher rural alentejana entrega-se aos seus hábitos, aos seus costumes e atola-se, e embrenha-se, confiante e descontraída, no seu mundo silencioso, sem chagas infamantes, sem podridões vergonhosas, mundo de sonho, cheio de poesia e de paz, que assimilou e enriquece com as fórmulas duma vida simples e honesta”.
“Enciclopédia Anual de Informações Úteis e Assuntos Culturais”
Obra editada por Fausto Gonçalves e patrocinada pela Casa do Alentejo
Numa altura em que o Mni é relançado e se torna ícone de moda, eis o pior anuncio jamais criado em Portugal para um automóvel de sucesso...
Estávamos em Maio de 1974 – ok, havia desculpa... – e aos criativos da “Publifirma” deve ter sido pedida inspiração revolucionária, ou pelo menos democrática. Vai daí, o trocadilho do “mini” e do “ministro”, e o texto exemplar: “Tenha um bom «ministro» na economia do seu transporte e eleja um Míni para si! Com um Míni nunca mais pensará: «Ainda anteontem meti trezentos escudos e já não tenho gasolina!» Porque o Míni dá-lhe uma total tranquilidade em matéria de economia de consumo. E em espaço para arrumar? Outra economia notável. E economia de trânsito? Nunca um Míni faz aumentar uma bicha! Economize com o seu Míni. Um verdadeiro «ministro» a zelar por si e pela sua economia”.
(a digitalização não é brilhante, mas foi feita a partir de uma edição do Diário de Lisboa em formato tablóide...)
Na primeira vaga de fundo da Internet, tudo era negócio e tudo se traduzia em milhões. Depois, foi o que se viu. Nesse tempo distante (para aí há dez anos...), já se sabia que entre papel impresso e edições online iria haver um interessante namoro, ou mesmo casamento. Mas o tempo era de experimentar – e foi isso que o casal Rufus Griscom e Genevieve Field fizeram. Em 1997 tinham criado, com enorme sucesso, um site sobre sexo. Ao contrário da generalidade dos sites com esta temática, não havia aqui pornografia nem anúncios idiotas de “escort girls” e coisas desse género. Nada disso: ali pensava-se e reflectia-se sobre sexo, escrevia-se com inteligência, humor e ironia sobre a matéria, e editavam-se notáveis portfolios fotográficos sobre o corpo, o erotismo, o sexo. Em pouco tempo o site cresceu, ganhou áreas interactivas, e ensaiou rentabilizar-se com publicidade e assinaturas. O entusiasmo foi tal que Rufus e Genevieve deram um passo mais ousado: transformaram o supra-sumo das matérias do site numa revista mensal de venda em banca. Assim nasceu a Nerve, cuja capa da edição de Dezembro de 2000 aqui reproduzo.
A revista, sendo naturalmente menos dinâmica e animada do que o site, era ainda assim uma excelente aproximação ao que poderia ser uma revista dedicada ao sexo que ficaria bem na sala de qualquer família liberal (depois das crianças se deitaram, é claro...). Era uma boa revista com bons artigos, humor, fotografia, ficção – tudo à volta desse infindável tema... Infelizmente, a “Nerve” impressa revelou-se mais cara do que o site, menos rentável, e sem futuro: morreu em 2001. O site continua, 11 anos depois, um caso de sucesso na net – o que faz pensar sobre o estado actual dos media impressos face ao mundo de informação na rede.
Enquanto pensa nas lições desta história, experimente então www.nerve.com ...
Vá lá saber-se porquê, esta noite lembrei-me desta capa, e desta semana de há 14 anos...
Eu estava a preparar o meu casamento, o que me deixava um pouco indiferente a guerras de rua, mas nem por isso deixei de ajudar a conceber a capa da primeira edição especial que a Visão produziu. O "buzinão da ponte". Em Junho de 2004. A "era Cavaco Silva", como lhe chamávamos naquela semana, estava a chegar ao fim. Do primeiro acto, é bom de ver. José Sócrates pensará nisto agora?
Enfim, foi destes momentos que me lembrei enquanto via as noticias dos camionistas por aí...
Antes da “Nova Gente” havia a Gente, que não resistiu ao 25 de Abril, apesar de uma tímida tentativa de conversão ao novo jet-set militar e político. Vai daí Jacques Rodrigues pegou no titulo, rebaptizou-o, e lançou-se no mercado em Setembro de 1976, fazendo companhia a outras três revistas do mesmo empresário: “Mulher Moderna”, “Florbela” e “Cigarra”, todas com as suas “fotonovelas completas”. Esta era a capa do primeiro número da “Nova Gente”, que custava 20 escudos, tinha 52 páginas e misturava Lurdes Norberto com Mão Tse Tung, Mário Soares com Nádia Comaneci. Havia até artigos de opinião não assinados, como aquele em que, sobre os 70 minutos que Mário Soares, então primeiro-ministro, ocupara a falar à nação e a pedir “Trabalhar e poupar”, a revista escreve: “Não desesperemos, mas não adormeçamos no Cântico de Sereias!”.
Vera Lagoa é a entrevistada central da edição – e da leitura da entrevista releva uma mulher socialista, injustamente acusada de ser fascista nos anos 74 e 75...
Ontem tropecei num dossier onde guardo restos dos tempos de Liceu. Testes, notas, cartas de amigos e de amores, bilhetes de espectáculos, facturas dos jantares de aniversários, etc.. Descobri que tenho alguns dias juvenis do meu passado descritos em pormenor no meio de diários que julgava reunirem apenas poesia infantiloíde e desabafos da idade do armário...
No meio de memórias com quase 30 anos, encontro estes três bilhetes de cinema. Para o cinema Berna, uma sala de média dimensão com plateia e balcão (estes bilhetes, de 100 escudos cada, eram para o balcão). Sessão das 21:30 de 4ª feira, 19 de Agosto de 1981. Tinha 17 anos. Fui com a A. e a A. ver “Gente Vulgar” (Ordinary People), o filme que marcou a estreia como realizador de Robert Redford. Ganhou um generoso numero de Óscares, tinha no elenco Donald Sutherland, Mary Tyler Moore, Timothy Hutton, entre outros, e contava a história dramática da morte de um filho numa família “normal” e de tudo o que daí decorre nas relações dentro e fora daquele circulo.
A seguir ao filme, devemos ter ido comer um prego e beber uma imperial ao Paco. Se havia dinheiro, claro. Senão, autocarro para casa - elas para a Estrada da Luz, eu para o Campo Grande.
Uns anos mais tarde, o Cinema Berna, que ficava encostado à Igreja de Nossa Senhora de Fátima, na Marquês de Tomar, fechou. Foi lá que se instalou a primeira redacção e o primeiro estúdio da TVI.
Tenho uma memória de galinha. Mas olho para estes bilhetes, o design, o logótipo, a textura do papel e a impressão em tipografia, e parece que me lembro de tudo.