Entre 1999 e 2001, fui um bocadinho mais feliz porque todos os meses chegava a Portugal a Talk – a revista que Tina Brown criou para provar que havia mais mundo depois da Vanity Fair e da renovação bem sucedida (e carérrima, conta-se...) da The New Yorker.
Tina Brown é a mais moderna das editoras de revistas, e um exemplo do que pode resultar da soma do conhecimento, com a elegância, com um travo ligeiro de frivolidade. O génio, talvez.
A Talk, se tivesse sabido sobreviver, era a concorrente de que a Vanity Fair nunca precisou – mas que, no entanto, não lhe faria mal nenhum. Quando tento perceber o que falhou na Talk, lembro-me do ensinamento da politica: ter razão antes de tempo é o mesmo que não ter razão.
Se alguém sabe, neste mundo, onde pode estar o futuro das revistas impressas em papel, aposto que Tina Brown é uma dessas pessoas. Perdi-lhe o rasto nos últimos anos.
Na edição a que reporta esta capa, o especial “Innovators & Navigators” tem um portfolio assinado por David Bailey, Fabrizio Ferri, Mondino, Steve Read, Bob Richardson, Oliviero Toscani e Deborah Turbeville. E na escolha da revista está Madonna, mas também o Cirque du Soleil, Bjork, Thomas L. Friedman, Oprah, Almodovar... e mais uns tantos.
Passam dez anos sobre a morte de Frank Sinatra (14 de Maio de 1998), e as canções estão de volta sob a forma de promoções de jornal.
Tony Bennett: “The musicians leave behind the music, wich will live forever. We’ll never lose Sinatra”.
Das milhares de fotografias que existem de Sinatra, em todas idades, em todas as fases, gosto especialmente desta. Assinada por Phil Stern, o notável fotógrafo da “Life” que “dividiu” a sua vida entre os cenários de guerra e as cenas de Hollywood.
Gosto da forma como caminha, da cabeça ligeiramente de lado, das mãos nos bolsos, do eterno chapéu, e de uma vaga ideia de solidão que sempre associo ao artista depois de um banho de multidão e aplausos.
Gosto muito dos anúncios antigos, em qualquer formato, (os “reclames” da tv, por exemplo...). Passo horas a ver publicidade antiga – e chamam-me sempre a atenção as páginas comerciais dedicadas aos cigarros. Talvez por ter deixado de fumar, ou por ser estranho, estapafúrdio mesmo, nos dias que correm, ver o tabaco ser promovido como um corrente produto de consumo. O mesmo tabaco que se tornou o mais politicamente incorrecto dos produtos “legais”...
Tenho muitos anúncios antigos a cigarros. Gosto especialmente deste, dada a carga que lhe está associada. Imagine-se: pela bata e pelo instrumento pousado junto do maço de “Porto”, o que se “vende” ao leitor é a imagem de um médico a fumar! Não me engano se disser que esta imagem hoje configura um crime... Nos anos 60 era assim. Chique e sofisticado. “Para um trabalho de responsabilidade...”
PS – Também gosto do anuncio porque ele mostra um maço de cigarros como antigamente havia: bom design, elegância, um embrulho perfeito. Apesar de ter deixado de fumar, de sonhar com cigarros regularmente e de ter sentido bem perto de mim o preço que se paga por fumar, preferia continuar a ver os maços completos, os nomes como deve ser – “Português suave”, o mais perfeito dos nomes jamais visto! -, enfim...
Passaram 40 anos sobre esta primeira página de “A Capital”. Visto daqui, o mundo parecia bem mais paradoxal em 1968 (mesmo depois de brutalmente “suavizado” pelo lápis azul da censura). Uma primeira página que oscila entre a morte de Luther King e o Festival da Eurovisão sinaliza bem um tempo confuso e contraditório.
No entanto, não foi para reflectir sobre esse tempo distante que escolhi abrir esta nova “frente” do blog com uma primeira página de A Capital – foi, isso sim, porque ela me permite deixar a pergunta, levantar a dúvida...
... Quem se lembra de “A Capital”, lembra-se de um percurso ascendente de um jornal que, na década de 70 e parte de 80, competia diariamente pela liderança numa área onde tinha a concorrência do “Diário Popular” e do “Diário de Lisboa”. Eram os vespertinos que animavam tarde fora as ruas da capital e de algumas cidades próximas. Juntos, ultrapassavam os cem mil exemplares diários em muitas ocasiões...
Mas os tempos mudaram: a televisão foi alargando o seu espaço de influência, a rádio assumiu-se como o espaço privilegiado da informação imediata, nasceu a cultura dos semanários, a vida nas cidades tornou-se mais rápida e stressante. Aos poucos, os jornais da tarde deixaram de ter espaço para respirar – e “A Capital” foi o ultimo a desaparecer, porque foi também o único a tentar refundar-se como jornal da manhã.
Assim morreu um sector de actividade na imprensa. Hoje, a ninguém ocorre a ideia de lançar um vespertino (pago, evidentemente...). Parece mesmo um contra-senso...
Não deixo de pensar neste caso quando penso no futuro dos jornais diários pagos, num país que consome imprensa na exacta proporção das ofertas de DVD’s e bugigangas que essa mesma imprensa disponibiliza.
Em 1968, alguém se atreveria a dizer que um dia os jornais vespertinos não fariam mais parte da paisagem? Em 2008, quem ousa adivinhar o futuro?